terça-feira, 21 de julho de 2015

Excelência em Conhecimento

A imprensa no Brasil tem uma preocupação essencial e cruel ao dar destaque acentuado aos crimes de diferentes naturezas que ocorrem em várias cidades, à corrupção deslavada que permeia empresas e órgãos públicos, obras superfaturadas, desvios de comportamento de políticos e de pessoas com notoriedade, ao invés de destacar fatos relevantes que poderiam dar uma nova panorâmica à vida nacional, além de deixar exemplos capazes de ser imitados.
Como a preocupação dos órgãos divulgadores caminha sempre em outra direção, pouco destaque vem sendo dado ao esforço de um grupo de jovens alunos oriundos de escolas públicas brasileiras, quando receberam em solenidade pomposa no Rio de Janeiro, medalhas de ouro, prata e bronze pelo esforço dedicado na 11ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, construindo e sedimentando novos parâmetros de cidadania.
Alguns veículos de divulgação sequer se preocuparam em divulgar uma nota, por menor que fosse, para mostrar que a população pode viver também do orgulho de uma geração que está apreendendo a andar com suas próprias pernas, candidatando-se à autonomia para conquistar posições cada vez mais altas na escala de valores do país, ampliando o contraste com um grupo imenso de aproveitadores que se mantêm confortavelmente instalados em tantos lugares, inclusive nos diferentes poderes.
Nessa batalha para conquistar espaço, foram centenas de Josés, Marias e tantos outros que passaram a vida estudando em escolas públicas, sofrendo pela falta de condições apropriadas de ensino em suas cidades, invariavelmente se submetendo ao desconforto de andar horas a pé, de ônibus ou outros meios de transporte nem sempre adequados, para chegar às escolas, sem ter muitas vezes uma alimentação correspondente às suas necessidades, notadamente por terem vindo de famílias com pais analfabetos ou com baixíssima formação, cujos salários são aviltantes e nem sempre podem oferecer o básico para que seus filhos sobrevivam com dignidade.
Desafiando todos os prognósticos e driblando os problemas que aparecem cotidianamente, eles estão fazendo bonito ao serem laureados por mérito, pelo esforço em aprender e dominar uma ciência capaz de impulsionar suas carreiras, proporcionando, com certeza, melhores dias.
A alegria momentânea desses verdadeiros heróis poderia perfeitamente ser complementada com a criação de programas de aprendizado capazes de oferecer mais bolsas de iniciação científica que as oferecidas atualmente, além de proporcionar estágios remunerados em empresas ou instituições para estimularem ainda mais suas capacidades de percepção e compreensão do universo matemático.
Qualquer investimento a ser feito por órgãos ou entidades afins, independentemente dos valores aplicados, poderá ser recuperado em curtíssimo prazo pela excelência e habilidade dos talentos e pela excepcional capacidade demonstrada por esses jovens durante as fases do certame.
O que se espera, sempre, é que outros setores da ciência tenham a mesma iniciativa e ofereçam condições similares de investimento na captação e formação de novos valores, sobretudo ao abrir outras possibilidades para aprendizado e desenvolvimento deles.
A iniciativa, no entanto, pela característica e alcance social embutido, não deve partir unicamente de setores organizados na sociedade brasileira, mas abranger todas as formas possíveis, inclusive com o apoio irrestrito e importante de administrações públicas em todos os níveis.


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