A imprensa no Brasil
tem uma preocupação essencial e cruel ao dar destaque acentuado aos crimes de
diferentes naturezas que ocorrem em várias cidades, à corrupção deslavada que
permeia empresas e órgãos públicos, obras superfaturadas, desvios de
comportamento de políticos e de pessoas com notoriedade, ao invés de destacar
fatos relevantes que poderiam dar uma nova panorâmica à vida nacional, além de
deixar exemplos capazes de ser imitados.
Como a preocupação dos
órgãos divulgadores caminha sempre em outra direção, pouco destaque vem sendo
dado ao esforço de um grupo de jovens alunos oriundos de escolas públicas
brasileiras, quando receberam em solenidade pomposa no Rio de Janeiro, medalhas
de ouro, prata e bronze pelo esforço dedicado na 11ª Olimpíada Brasileira de
Matemática das Escolas Públicas, construindo e sedimentando novos parâmetros de
cidadania.
Alguns veículos de
divulgação sequer se preocuparam em divulgar uma nota, por menor que fosse,
para mostrar que a população pode viver também do orgulho de uma geração que
está apreendendo a andar com suas próprias pernas, candidatando-se à autonomia
para conquistar posições cada vez mais altas na escala de valores do país,
ampliando o contraste com um grupo imenso de aproveitadores que se mantêm
confortavelmente instalados em tantos lugares, inclusive nos diferentes
poderes.
Nessa batalha para
conquistar espaço, foram centenas de Josés, Marias e tantos outros que passaram
a vida estudando em escolas públicas, sofrendo pela falta de condições
apropriadas de ensino em suas cidades, invariavelmente se submetendo ao
desconforto de andar horas a pé, de ônibus ou outros meios de transporte nem
sempre adequados, para chegar às escolas, sem ter muitas vezes
uma alimentação correspondente às suas necessidades, notadamente por terem
vindo de famílias com pais analfabetos ou com baixíssima formação, cujos
salários são aviltantes e nem sempre podem oferecer o básico para que seus
filhos sobrevivam com dignidade.
Desafiando todos os
prognósticos e driblando os problemas que aparecem cotidianamente, eles estão
fazendo bonito ao serem laureados por mérito, pelo esforço em aprender e
dominar uma ciência capaz de impulsionar suas carreiras, proporcionando, com
certeza, melhores dias.
A alegria momentânea
desses verdadeiros heróis poderia perfeitamente ser complementada com a criação
de programas de aprendizado capazes de oferecer mais bolsas de iniciação
científica que as oferecidas atualmente, além de proporcionar estágios
remunerados em empresas ou instituições para estimularem ainda mais suas
capacidades de percepção e compreensão do universo matemático.
Qualquer investimento
a ser feito por órgãos ou entidades afins, independentemente dos valores
aplicados, poderá ser recuperado em curtíssimo prazo pela excelência e
habilidade dos talentos e pela excepcional capacidade demonstrada por esses
jovens durante as fases do certame.
O que se espera,
sempre, é que outros setores da ciência tenham a mesma iniciativa e ofereçam
condições similares de investimento na captação e formação de novos valores,
sobretudo ao abrir outras possibilidades para aprendizado e desenvolvimento
deles.
A iniciativa, no
entanto, pela característica e alcance social embutido, não deve partir
unicamente de setores organizados na sociedade brasileira, mas abranger todas
as formas possíveis, inclusive com o apoio irrestrito e importante de
administrações públicas em todos os níveis.
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