quarta-feira, 23 de março de 2016

Cultura de Paz

Apesar dos milênios vividos pelas civilizações, o ser humano ainda não está devidamente preparado para construir e solidificar uma Cultura de Paz nos ambientes onde se encontra. Ainda falta muito para que possa entender e ou modificar os significados de atuações individuais e coletivas. Fatos observados no dia a dia mostram claramente que esse mesmo ser humano trabalha incessantemente para fazer valer suas ideias e ideais de todas as formas. Coloca-se num primeiro plano disposto a suprimir qualquer tentativa contrária aos seus propósitos e, sempre que pode, detona todos os seus opositores sem o menor constrangimento ou culpa. Na maior parte do tempo, não tem a preocupação de ser instrumento do progresso, só se esse estágio estiver diretamente relacionado com ele e seus interesses particulares. Além disso, na maioria das vezes, não dá o menor valor para outras iniciativas que não as próprias e está sempre preocupado em estabelecer ganhos imensos para suas próprias teorias e necessidades. No fundo, esse ser humano vive ainda num estágio de subdesenvolvimento crítico, incapaz de agir em sintonia com os anseios da maioria e preocupado substancialmente com o seu próprio umbigo. Lamentavelmente, esses propósitos e dinâmicas são passados de geração a geração, comprometendo qualquer gesto positivo de alternância, tornando impossível outros comportamentos mais adequados. Apesar da inconstância dos atos de muitos seres, alguns notáveis que passaram por este mundo tiveram comportamentos diferentes, pregando a paz e morrendo na defesa intransigente de seus propósitos. Mahatma Gandhi foi um desses notáveis e tinha uma posição clara quanto à forma de contribuir para a paz ao afirmar: “Se queremos alcançar neste mundo a verdadeira paz e se temos de levar a cabo uma verdadeira guerra contra a guerra, teremos de começar pelas crianças; e não será necessário lutar se permitirmos que cresçam com a sua inocência natural; não teremos de transmitir resoluções insubstanciais e infrutíferas, mas iremos do amor para o amor e da paz para a paz, até que finalmente todos os cantos do mundo fiquem cobertos por essa paz e por esse amor pelo qual, consciente ou inconscientemente, o mundo inteiro clama.”. Martin Luther King, outro líder que recebeu pela sua atuação destacada o Prêmio Nobel da Paz em 1979, diante das posturas irracionais de seres humanos costumava dizer: “A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.”. Realçava as desigualdades sociais que separavam em planos distintos ricos e pobres. Não se cansou de inspirar seus irmãos para a prática da não violência defendendo intransigentemente a igualdade racial e a paz entre os povos e nações. No mundo moderno, guardadas as devidas proporções e diante dos significados incomensuráveis deixados por esses dois líderes, seria fundamental que pudéssemos dar nossa contribuição, procurando trabalhar em favor de todos, deixando de lado a tão marcante individualidade, sendo instrumento de pacificação ao oferecer o que de melhor tivermos em favor da sociedade. Sabe-se que as desigualdades acentuadas são geradoras de desconforto e revoltas, além de não contribuir para uma Paz duradoura.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O Picadeiro

Quando eu era criança, me deliciava com as histórias inocentes contadas pelos palhaços dos pequenos circos que eram montados na região onde morava. Centenas de seres faziam parte de intermináveis filas disputando o privilégio de ouvir e vê-los em ação, encenando espetáculos que faziam crianças e velhos se divertirem ao máximo. Na forma singela de encarar e ver as situações descritas pelos artistas do picadeiro era possível vislumbrar um mundo diferente, quase mágico, cheio de novidades e fantasias e servia de estímulo para que produzissem histórias mirabolantes em muitas mentes ainda em formação. Certamente preenchiam um espaço ilusório que acalmava e fazia muita gente extraordinariamente feliz. O figurino utilizado era altamente indiscreto, espalhafatoso até, assim como o enorme nariz, sempre vermelho, que ensejava as mais inusitadas brincadeiras para delírio geral. Ninguém era capaz de ficar indiferente às suas provocações e, muitas vezes, faziam coro a todas as manifestações produzidas. As performances se materializavam com um brilhantismo incomum e estavam restritas ao espaço dos circos e nunca poderíamos imaginar que essas atuações fossem invadir outras áreas, inclusive aquelas destinadas a tratar coisas sérias e importantes para a maioria dos cidadãos. Em razão das variações que o mundo costuma apresentar, cresci e pude ver uma modificação radical na figura dos palhaços tradicionais. Deixaram de ser engraçados, ao que parece contaminados com o meio onde passaram a circular e a nova atuação revelou outras faces de abomináveis figuras, nada engraçadas, muito deprimentes. Outro detalhe a destacar é que esse trabalho passou a ser copiado descaradamente em vários segmentos, como se fosse uma concorrência predatória, desleal. Os novos atores, sem a formação necessária e desejável, ao invés de provocar o riso como seria esperado passaram a tripudiar as características dos pasmos cidadãos que, perplexos, não estão podendo se defender, só chorar e lamentar. Os mambembes trapalhões sem farda chegaram para ficar e ocuparam, sem pedir licença, os gabinetes e as galerias de plenários de tantas ordens e passaram a ditar as regras como se a população tivesse que literalmente engolir suas mazelas e a coisa mal feita. O que os diferencia é a ousadia e petulância em se apropriar de instrumentos que não são seus e são capazes de tornar infelizes os cenários e as pessoas que terão que se submeter aos seus inconfessáveis propósitos. Diferentemente dos verdadeiros artistas que tiveram que treinar muito para alcançarem um estágio ideal para atuar nenhum desses novos atores, ao que se tem conhecimento, teve o cuidado de se preparar e, mesmo assim, concorrem para piorar as relações humanas em detrimento da qualidade da vida de todos. A diferença fundamental entre eles é que os habitantes tradicionais do picadeiro foram e continuam sendo desprendidos, despojados de coisas materiais e preservam o compromisso de trabalhar em favor da alegria e da felicidade geral, funções que são difíceis de remunerar a contento. Nas minhas orações, eu peço que alguém tenha coragem suficiente para não permitir que os falsos palhaços continuem atuando indiscriminadamente e que, de fato, o picadeiro venha a ser ocupado por artistas de verdade que só trabalhem na construção do bem.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Os Enjeitados

Nas diversas sociedades instaladas em todo o globo, as pessoas são estimuladas a respeitar integralmente os seres considerados normais e nem sempre conseguem enxergar, ver e tratar adequadamente os outros seres não normais, que não estão nesse patamar porque não preenchem essa regra, são os superdotados e os que têm deficiências infinitas de aprendizado. Em vários cenários, em múltiplos lugares, os que apresentam características acima ou abaixo da normalidade são literalmente isolados e tratados de forma diferenciada, às vezes são punidos pelo desprezo e pouco caso, porque as pessoas ainda não estão devidamente prontas para conviver pacificamente com esses segmentos. Os que não conseguem acompanhar o nível de aprendizado da maioria padecem mais ainda, sofrendo Bullying das mais diferentes formas porque a maioria ao redor não se cansa de caracteriza-los de idiotas, imbecis, burros. Esses procedimentos estão presentes em muitos lugares, principalmente nas escolas de ensino fundamental que deveriam proporcionar educação elementar, além de zelar pela formação adequada de crianças e adolescentes. A rigor, parece que ser um cidadão ou cidadã com características acima ou abaixo da média tende a ser um castigo ou provação, que deve ser paga com inúmeras situações de desconforto, preconceitos e discriminação. É como se a própria sociedade estivesse dizendo: quem mandou você ser diferente? E comum encontrar seres pequeninos que são isolados em escolas, parques e outros mecanismos voltados à educação, porque não existem profissionais devidamente preparados para orienta-los ou inseri-los no contexto. Faltam, também, políticas corretas de inclusão que poderiam detectar situações nesses níveis e corrigi-las prontamente. Muitos deles – os chamados superdotados - revelam possuir graus acentuados e mais elaborados de conhecimento, mostrando que existe uma ou mais realidades que precisam ser conhecidas e consequentemente utilizadas em favor do bem comum. O processo de superdotação vivido pelo ser não está direcionado para um único caminho, ao contrário, revela que existem universos amplos e, acima de tudo, cada ser tem particularidades e potencialidades que precisam de observação acurada e atenção permanente dos educadores. Na outra ponta, os seres que revelam dificuldades em formação elementar sofrem mais ainda, porque quem está se candidatando a educa-los não admite, nunca, que alguém tenha tantos problemas para compreender princípios básicos de aprendizagem. Em muitos momentos, é possível ver os administradores completamente perdidos em suas ações, falta humildade e respeito ao semelhante, porque estão sendo constantemente desafiados e são totalmente incapazes de estabelecer outros parâmetros de entendimento e atuação. Esses profissionais preferem fechar os olhos às realidades a ter que trabalhar intensamente para mudar o quadro à sua frente, deixando de levar em conta que são seres em formação e necessitam de todo o apoio possível para saírem do estágio em que se encontram. Nos cursos e treinamentos implantados para administradores escolares, em vários níveis, faltam muitos instrumentos de compreensão das realidades, notadamente quando se trata do olhar para os diferentes em suas dúvidas, incertezas e inquietações. Se os profissionais que se candidataram a trabalhar em favor desses seres não fizerem realmente a parte que lhes cabem será difícil reverter esse quadro caótico.

domingo, 6 de março de 2016

Sofrimento



O sofrimento pode ser considerado um grande enigma na Terra porque mostra uma faceta não dimensionada na mente da maioria das pessoas e pode significar um retrocesso na qualidade de vida de qualquer cidadão ou cidadã.
Em tese, o sofrimento é um processo que afeta o nível consciente ou inconsciente do ser humano, principalmente quando está prestes a perder algo, ou mesmo diante da instalação de algum tipo de distúrbio físico, mental ou espiritual.
Uma das particularidades do sofrimento é a sensação de impotência total diante das dificuldades que se apresentam. Essa constatação leva o cérebro humano a admitir a anomalia e, em muitos casos, tende a somatizar esse distúrbio no corpo físico, proporcionando casos complexos de angústia e depressão, podendo ocasionar a morte física.
Uma multidão de pessoas no mundo passa por situações como essa e não estão devidamente preparadas para inverter o quadro porque se sentem impotentes, incapazes de reagir, o que é lamentável.
Sob o ponto de vista da Espiritualidade, o sofrimento é uma característica que aproxima o ser do caráter de humanidade, porque permite que ele reveja conceitos e preconceitos e, se entender o recado, torne-se alguém mais humilde, mais próximo de seus semelhantes.
Embora sendo uma experiência necessária e útil, a maioria das pessoas prefere pular essa etapa, acreditando que poderia perfeitamente desenvolver outros aprendizados mais significantes, menos invasivos.
Na verdade, todo ser humano necessita passar por uma fase com essas características para aprender a aceitar e valorizar o mundo que o cerca. Ninguém está confortavelmente livre e acima dessa questão, em nenhum momento.
Na corrente contrária à experiência causada pelo sofrimento encontram-se pessoas que se acostumaram a ter todos os tipos de conforto e regalias, sem dar muita importância ou valor aos seres que o cercam.
As dificuldades mais acentuadas dizem respeito a não querer abrir mão de benefícios conquistados, característica que provoca sofrimentos infindos.  
A notícia de uma doença que atinge um ser humano qualquer pode desencadear esse processo, assim como a perda de bens ou pessoas queridas provocam a instalação de desequilíbrios internos significativos.
A revolta e a não aceitação não ajudam a resolver as questões, ao contrário, agravam ainda mais o quadro. Alguns especialistas afirmam que a melhor maneira de combater um mal e procurar conhecer profundamente suas variações e consequências. A partir dai, fica mais fácil encontrar alternativas para supera-lo.
Em tudo isso, nota-se o despreparo de seres humanos e o total desconhecimento de leis importantes que regem o Universo. O que as pessoas precisam entender para aceitar com mais tranquilidade é que tudo que foi colocado à disposição nesta passagem não lhe pertence. São apenas e tão somente instrumentos para facilitar a caminhada. Se pudesse compreender sob essa ótica reduziria radicalmente os problemas vivenciados.
Apesar do eminente desconforto, falar e pensar sobre sofrimento humano é algo que poderia ajudar a melhorar o mundo em que vivemos, notadamente porque estamos sujeitos a ter que encarar suas variações.
Todos os seres humanos deveriam refletir sobre o tema e suas consequências...